Museus Imperdíveis em Londres: minha listinha

Quando comecei a usar a Internet como fonte de leituras uma coisa que sempre me irritava eram as famosas listinhas. Top 5, 10 best, 17 worst

A gente nunca concorda com a seleção, fica refazendo tudo mentalmente etc. Preguiça!

Pensando bem, talvez isso seja uma experiência particular minha (Upsie). 

Bom, notei que a minha interação apaixonada com esse tipo de conteúdo mudou. Hoje, vejo com clareza a presença de um autor por trás das tais listinhas. Elas são sempre parciais e dizem respeito a visões de mundo e lugares de falas específicas, logo, não existe mais motivo para irritações. Não é ótimo? “É a lista da dona X, não uma fonte de verdades absolutas”, conclui.

Mas eu queria fazer uma listeeenha. Pode?

Até hoje recebo perguntas sobre museus. Qual o melhor nessa ou naquela cidade? O mais imperdível? O mais mais… E eu sempre respondo: depende.

Vai variar de acordo com o seu gosto, e também com suas prioridades. Você quer ir numa boa exposição; gosta de espaços grandes, quer algo diferentão, pessoal; tem interesses particulares... 

Deixo aqui a minha lista de museus para Londres. Eu organizei em categorias "pessoais" que me interessam e me atraem. Espero que curtam e que seja útil.  

À batalha!

1. Grandão e Classudo: British Museum

Ah! O British Museum! Um clássico. Existe toda uma discussão sobre o acervo ser fruto de pilhagem durante os anos de colonização. Se as peças roubadas voltam ou não para os países de origem. Eu vou me poupar desse babado por hora. Apesar de achar uma discussão fundamental para nós. Voltamos no futuro à discussão (preparem-se! rs)

O acervo do British é de 8 milhões de peças. Bora repetir: 8 milhões! Apenas 80.000 ou 1% das peças estão disponíveis aos nossos olhinhos. E, para nós, brasileiros (e periféricos), o esforço para chegar a este museu e ver estas peças, entendê-las, é hercúleo. Certo?

Então, voltamos: por que ir ao British? Porque é um clássico! Porque o museu em si já é um mergulho na história do Reino Unido e da humanidade. Vá também pelo fetiche de está cara a cara com objetos tão definidores para a humanidade. É uma pedra de Rosetta aqui, um Parthenon acolá. Not too shabby for us

Curiosidade: o museu foi aberto ao público em 1759 (a data oficial é 1753). O primeiro do mundo destinado à exibição pública, com propósito educacional (enlightenment). Ele tem um catálogo exaustivo que se prestava (naquela época) à reafirmação da Inglaterra como Estado Moderno e Império, tudo isso sem perder o humilde propósito de ser depositário e guardião dos objetos que fazem de nós seres civilizados.   
Horário: todos os dias - 10am - 5pm (última entrada às 4pm)

2. Melhores exposições: V&A

O V&A é um museu de artes decorativas e design com um dos maiores acervos do mundo (vemos que tamanho é uma obsessão quando falamos de museu). Sua fundação está intimamente ligada à Grande Exposição de 1851 e um dos marcos cultarais do período vitoriano. O discurso ali era promover a educação artística via museu

Não há dúvida de que este ainda é o discurso por lá. E, ainda que a sua aplicação seja diferente, educar através do acesso à arte é o mote. A gente percebe isso já na entrada, quando deparamos com o "Cast Courts". É o famoso: dá para passar dias ali.  

O que me pega de jeito no V&A, no entanto, são as suas exposições. Sem dúvida são as minhas preferidas. Eu já estou aqui imaginando que vai ter gente dizendo que o Tate é melhor ou o Royal Arts é melhor. Bom, tudo depende do seu estilo e interesse, mas, na minha opinião pessoal, eles são os melhores. Com relação a tudo, a curadoria de peças, a narrativa contada em cada expo, a habilidade de transformar cultura em objeto de desejo e valor. Tudo. 

Se estiver em Londres ou planejando, não deixe de pesquisar as exposições do V&A.

Alguns exemplos: Frida Kahlo: making herself up; Alexander McQueen: Savage Beauty e a atual Alice: curiouser and curiouser

Horário: quartas a Domingos - 10am - 5:45 pm (última entrada às 4:45pm)

3. Modernex: Design Museum

Quando quero sentir o "espírito do tempo" é para o Design Museum que vou. (@raphaperlin - tweet me)

O prédio é o antigo Commonwealth Institute (Grade II). Em 2016, foi botoxizado em uma obra caríssima levada pela empresa holandesa de arquitetura de Rem Koolhaas e com assinatura de John Pawson.

O acervo do museu começou a se formar em um armazém no Tâmisa até ser transferido para o prédio de South Kensington. Assim como V&A, ele tem foco no design, mas aqui a proposta é muito mais um catálogo de inovações do que a educação artística em si. Um ótimo exemplo foi a solução durante o lockdown de se transformar em supermercado. Eles vendiam produtos essenciais, mas a embalagem era arte. Maravilhoso, né?  

Horário: Domingo a Quinta de 10am - 6pm e Sexta e Sábado de 10am - 9pm

4. Diferentão: Dennis Severs House

Saímos dos museus gigantes para os minúsculos. A Severs House é fruto da "imaginação histórica" de Dennis Severs que comprou e morou nesta casa georgiana em Spitalfield de 1979 a 1999. Ele criou essa "experiência" no qual os seus visitantes têm acesso a vida de uma família de tecelões huguenotes que teriam vivido ali. É como se seus moradores estivessem na rua, e nós estivéssemos ali espiando a sua casa. Um pão meio comido largado na mesa, roupas sob a cama. É muito doido, e eu adoro. 

É impressionante pensar que a casa-museu é fruto da imaginação de Severs, que ele coletou cada objeto sistematicamente, e mais, que ele viveu na casa, no epicentro de sua ficção durante boa parte de sua vida. 

Horário: é preciso fazer reserva para visitar este museu

Photo by Roelof Bakker

5. Casa de gente: John Soane's museum

John Soane foi um importante arquiteto na história da Inglaterra. Expoente do que ficou conhecido como Classicismo Romântico (Bank of England é a sua masterpiece), viveu a virada do XVIII para XIX e teve uma atuação particular no cenário arquitetônico inglês.   

O mais interessante de visitar a casa de Soanes está na sua história de vida. O mocinho era excêntrico, gente! Acumulador (colecionador) de antiguidades, a sua casa é de uma bizarrice apaixonante. (@raphaperlin - tweet me)

Mas não se enganem, pensem no primeiro item dessa listinha (British Museum)... Você vai ver que essa postura acumuladora condiz com o espírito do seu tempo. Colecionar é poder. 

Tirando isso, eu diria que vale fazer a visita guiada, e conhecer um pouco mais sobre a sua obra, mas também sobre a sua vida privada (foi uma vida bem novelesca, eu diria). 

Horário: Quarta a Domingo de 10am - 5pm (última entrada 4:15pm)

Photo by Sir John Soane Museum

6. Um Quadro, um Museu: Courtauld Gallery

A Courtauld faz parte da Sommerset House. Uma galeria especializada em história da arte e ligada à University of London. É notoriamente conhecida por seu acervo de Impressionismo Francês e Pós-Impressionismo. Aliás, você sabia que brasileiro tem um negócio que não se explica com o Impressionismo francês? Vai entender.

O meu babado com esse lugar, por outro lado, é uma única pintura: a "A Bar at the Folies-Bergère" de Claude Manet.

Edouard Manet, A Bar at the Folies-Bergère

Para mim, ver esta pintura é o resumo do que chamam fruição artística. Um soco, um estranhamento, uma sensação de suspensão da vida, um mistério. Vale a pena ler sobre ela se for visitar o museu. Eu fico por aqui para não escrever um tratado - tem coisas nessa vida que não se pode resumir ou simplificar.

Horário: Segunda a Domingo de 10am - 6pm (última entrada 5:15pm)

7. Melhor Lojinha: Tate Modern

Todo mundo sabe que a lojinha do museu é a melhor parte da visita. (@raphaperlin - tweet me)

Eu não devia dizer isso, mas é um pouco verdade. A gente vive numa sociedade capitalista que ama consumir, e a lojinha do museu do Tate Modern atende nossos desejos muito bem.

A loja física já é incrível. Na realidade, o museu tem mais de uma loja espalhada pelo prédio o que ajuda bastante. Mas se quiser pirar no consumo, basta visitar a loja on-line. Você vai entender o meu ponto.  

Horário: Segunda a Domingo de 10am - 6pm (última entrada 5:15pm)

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